sábado, 6 de junho de 2015

BENDITO, MALDITO, DIA

Bom dia anuncia minha entrada
Como uma chave que abre as portas
Ninguém se interessa, pensa: asneira.
Senão o motorista, riso a frente e mãos mortas.

Passando pelos corredores, sorrindo
As boas vibrações andam longe de mim;
Porém, ainda que o clima bom esteja sumindo,
à minha felicidade particular não há fim.

Outra tentativa, outro caloroso bom dia
Dessa vez ao cobrador, que responde
com os dentes à mostra. Reluzia!
Aquela chave abre a alegria, mas se esconde.

Rodo a catraca e logo a frente
Encontro um idiota reclamando. Demente!
Não sabe ele que as pessoas ali descansam?
Sua chave bem faz com que muitos tussam.

Se toca, vacilão, que o povo quer dormir!
Todo mundo pagou pela bendita passagem
Todos querem fazer o sono exaurir
Retirá-lo da sua indesejável bagagem!

Disse e não me desculpo,
Aquela chave abre as portas chatas
Pra que eu não esqueça, lentamente esculpo
O rosto dele de rugas fartas.

Mais a frente, uma moça bem arrumada
Aquela chave abre portas a um bom nível!
Porém, naquela curta caminhada
Veio às narinas o cheiro horrível!

Meu Deus! A chave ornamentada!
Que todos sentem graça e até inveja
De longe a todos encanta; de perto, amada,
traz a verdade: mas que peleja!

Essa chave, tão bonita no visual
Traz uma ideia magnífica, de fato
Mas logo mostra que o alto astral
Foi, em verdade, só falta de tato.

Que então, doce chavinha
Tão delicada, bonita, atraente
Quando testada — que bizarro!
Abre portas más e atraentes.

A ponto de todos no ônibus, lenta e calmamente
Afastarem-se para bem longe, num local mais seguro
Para que então, aliviados brevemente
Consigam respirar ar puro.
Não viciado por
Ela, a chave bela,
A que encanta
Desencanta
Falsa, ela?

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